Hidrogel no Joelho: Guia Completo do Tratamento

Introdução

 

A dor no joelho é uma queixa cada vez mais comum, tanto em pessoas ativas quanto em idosos. Lesões na cartilagem, problemas no menisco e o desgaste progressivo causado pela artrose são algumas das causas mais frequentes desse incômodo que afeta a mobilidade, a qualidade de vida e até mesmo a independência do paciente.

Com os avanços da medicina, surgiram alternativas menos invasivas e mais modernas para o tratamento dessas condições. Entre elas, destaca-se a infiltração de hidrogel intra-articular — uma técnica que tem ganhado espaço por oferecer alívio prolongado da dor, melhora da função articular e, em alguns casos, estímulo à regeneração dos tecidos.

O hidrogel é uma substância com alta capacidade de absorção de água, desenvolvida para imitar as propriedades biomecânicas do tecido articular. Dependendo da formulação, ele pode atuar como lubrificante, amortecedor e até como suporte biológico para a regeneração da cartilagem ou proteção do menisco. Existem também formulações específicas indicadas para casos de artrose, com efeito prolongado e excelente perfil de segurança.

Neste artigo, o Dr. Otavio Melo — ortopedista especialista em joelho — explica como a infiltração de hidrogel pode ser utilizada de forma personalizada no tratamento de três problemas comuns: lesões na cartilagem, lesões meniscais e artrose. Entenda como funciona essa técnica inovadora, para quem ela é indicada e quais os benefícios comprovados em estudos clínicos.

Hidrogel para Reparo e Proteção da Cartilagem

 

O desafio da cartilagem articular

A cartilagem articular é um tecido avascular, com baixa capacidade regenerativa. Quando acometida por lesões (traumáticas ou degenerativas), sofre degeneração irreversível, levando à dor e perda de função articular 

Como o hidrogel age

Os hidrogéis são materiais com alta biocompatibilidade e estrutura similar à matriz extracelular, capazes de replicar as propriedades mecânicas da cartilagem (absorção de choque, resistência à deformação, lubrificação)

  • Hidrogéis naturais ou sintéticos (como PVA, GelMA, colágeno, HA) formam scaffolds que favorecem a adesão celular e a proliferação de condroblastos.
  • Podemos incorporar fatores bioativos (como fatores de crescimento, exossomos ou miRNAs), criando sistemas que estimulam modulação inflamatória e regeneração da cartilagem .

Benefícios clínicos

  • Melhora do amortecimento articular e diminuição do atrito intra‑articular.
  • Suporte mecânico imediato e estímulo biológico contínuo: formação de colágeno tipo II e matriz cartilaginosa .
  • Estudos pré-clínicos (em modelos animais) mostram que hidrogéis bioativos promovem reparo significativo de defeitos na cartilagem

Hidrogel para Reparo e Proteção da Cartilagem

 

Desafio da cartilagem articular

A cartilagem é avascular e tem capacidade regenerativa limitada. Quando sofre lesões, sejam traumáticas ou degenerativas, ocorre degradação irreversível, causando dor e perda de função no joelho.

Modo de ação do hidrogel

  • Os hidrogéis são redes tridimensionais de polímeros com alta afinidade por água, que reproduzem propriedades mecânicas da cartilagem, como absorção de choque, lubrificação e resistência ao atrito.
  • Podem ser formulados a partir de materiais naturais (como ácido hialurônico, gelatina, colágeno) ou sintéticos (como PVA), criando scaffolds que favorecem a adesão e proliferação de condroblastos ou células-tronco.
  • Hidrogéis funcionalizados com fatores bioativos — como fatores de crescimento, exossomos ou partículas metálicas — têm sido testados para modular resposta inflamatória e promover regeneração tecidual.

Benefícios demonstrados

  • Propriedades mecânicas integradas com estímulo biológico: suporte imediato e formação de nova matriz com colágeno tipo II.
  • Estudos pré-clínicos em animais mostram reparo significativo de defeitos condrais com integração ao tecido natural e aumento de deposição de matriz.
  • Meta-análises e revisões mostram, em modelos clínicos, redução significativa de dor (em VAS, WOMAC) e melhora funcional (IKDC, Lysholm).

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Hidrogel no Tratamento de Lesões no Menisco

 

Perfil das lesões meniscais

As lesões no menisco podem surgir de traumas em indivíduos jovens ou de processos degenerativos em pessoas mais velhas. No segundo caso, pequenas fissuras podem se expandir devido à fraca lubrificação articular e à perda de ácido hialurônico, agravando o desgaste.

Modo de ação do hidrogel

O tratamento envolve injeções intra-articulares de hidrogéis derivados de ácido hialurônico, como o HYADD4® (Hymovis®). Esses hidrogéis atuam como lubrificantes e scaffolds, promovendo suporte mecânico e bioestimulação. São moduláveis e até impressos em 3D para se ajustar às características do menisco lesionado.

Resultados clínicos

  • Estudo clínico randomizado com HYADD4® em 50 pacientes mostrou redução significativa de dor (escala VAS) já no 14º dia, mantida em 60 dias; além de melhora funcional confirmada por WOMAC e redução do defeito no menisco via ressonância magnética.
  • Pesquisa pré-clínica com hidrogéis termossensíveis (HA + TGF-β1) em coelhos demonstrou proliferação celular, aumento de GAGs e reparo do menisco em 12 semanas.
  • Novas tecnologias incluem hidrogéis de tecido descelularizado (dECM) e impressos em 3D, projetados para reproduzir a heterogeneidade zonal e otimizar a biomecânica local.

Vantagens

  • Minimamente invasivo e ambulatorial, sem necessidade de cirurgia.
  • Adequado para lesões degenerativas leves a moderadas, especialmente em zonas com pouca vascularização.
  • Possibilidade de personalização do scaffold para diferentes tipos e regiões de lesão, favorecendo cicatrização e evitando progressão para artrose.

Hidrogel no Tratamento da Artrose do Joelho

 

Visão geral da artrose

A artrose é uma doença degenerativa crônica, caracterizada por desgaste da cartilagem articular, remodelamento do osso subcondral, formação de osteófitos, inflamação da sinóvia e redução do espaço articular. Os sintomas incluem dor progressiva, rigidez e limitação funcional do joelho.

Tipos de hidrogéis utilizados

  • Poliacrilamida (Arthrosamid® / iPAAG): hidrogel não biodegradável injetado em dose única de 6 mL, que se integra ao tecido sinovial, proporcionando amortecimento duradouro por até 12 meses ou mais.
  • Hidrogéis sintéticos e naturais multifuncionais: cruzados, adesivos ou contendo agentes anti-inflamatórios, antioxidantes ou lubrificantes, que liberam substâncias localmente conforme demanda articular.

Eficácia clínica comprovada

  • Um estudo prospectivo com iPAAG em 49 pacientes mostrou redução média de 17,7 pontos no escore WOMAC de dor após 12 meses e melhora também na rigidez, função física e avaliação global do paciente.
  • A maioria dos pacientes (62%) foram considerados “respondedores” aos critérios OMERACT-OARSI após 1 ano.
  • Avaliações anteriores (estudos IDA/ROSA) confirmam eficácia de alívio da dor por até 6–12 meses, com mais de 70% dos pacientes relatando melhora significativa.

Benefícios adicionais e mecanísticos

  • Hidrogéis microssféricos lubrificantes feitos de PEG com revestimento zwitteriônico restauram o atrito sinovial e formam um revestimento protetor mecânico.
  • Hidrogéis adesivos modulam a resposta inflamatória da sinóvia, agentes anti-inflamatórios e antioxidantes reduzem estresse oxidativo e expressão de MMPs.

Perfil de segurança

  • Injeção guiada por ultrassom, sem procedimentos cirúrgicos invasivos.
  • Tolerabilidade favorável, com poucos eventos adversos geralmente leves (dor transitória ou inchaço); em estudos com iPAAG, nenhum efeito adverso sério foi atribuído ao dispositivo.

Duração do efeito e comparativo

  • Hidrogéis tradicionais (como ácido hialurônico) oferecem alívio por ~4–6 meses.
  • Hidrogéis avançados, como o iPAAG, apresentam benefícios prolongados de 12–24 meses ou mais .
  • Comparados a corticosteroides, os hidrogéis têm início de ação mais gradual, porém com efeito sustentado e menos efeitos colaterais sistêmicos .

Indicações ideais

  • Artrose leve a moderada (graus II–III).
  • Pacientes que não responderam a ácido hialurônico ou desejam evitar cirurgia.
  • Idosos ativos que buscam alívio prolongado com perfil seguro.

Hidrogel vs Corticosteroide

  • Velocidade de ação: Corticosteroides atuam rápido — em horas a duas semanas, aliviando dor e inchaço. Já hidrogéis têm efeito moderado inicialmente.
  • Duração do efeito: Corticoides duram poucas semanas a meses; uso repetido provoca desgaste da cartilagem. Hidrogéis podem oferecer alívio por 12 a 24 meses com dose única.
  • Regeneração: Corticosteroides não promovem regeneração e podem ser deletérios com uso crônico. Hidrogéis funcionais podem estimular regeneração e proteger a articulação.
  • Perfil de risco: Corticoides têm efeitos sistêmicos e locais (ex: redução da cartilagem); hidrogéis mostram excelente tolerabilidade, com raras reações locais.

 Hidrogel vs Ácido Hialurônico (HA)

  • Mecanismo: Ambos visam melhorar lubrificação e amortecimento, mas hidrogéis avançados (ex: Arthrosamid®, HYADD4-G) têm estrutura tridimensional com maior estabilidade e autonomia.
  • Duração do efeito: HA tradicional dura 4–6 meses; hidrogéis podem manter efeito por até 1–2 anos.
  • Eficácia: Hidrogéis têm desempenho igual ou superior ao HA de alto peso molecular em estudos clínicos, com efeitos prolongados e menos infiltrações necessárias.
  • Reações adversas: Ambos bem tolerados; HA pode provocar dor no local por vários dias; hidrogéis têm menos efeitos locais e menor necessidade de aplicações repetidas.

 Hidrogel vs PRP (Plasma Rico em Plaquetas)

  • Mecanismo: PRP fornece fatores de crescimento (biológico); hidrogéis fornecem suporte mecânico prolongado e podem ser combinados com PRP para sinergia.
  • Evidência clínica: PRP é superior ao HA no controle da dor e função até 6–12 meses. Hidrogéis mostram alívio sustentado por até 24 meses; comparativos diretos ainda limitados.
  • Combinação terapêutica: Estudos combinam PRP + HA e indicam melhora de VAS em 6 meses. Hidrogéis estruturais poderiam potencializar esse efeito.
  • Custos e acesso: PRP é caro e variável; hidrogéis, embora também custosos, são aplicados uma única vez e exigem menos infraestrutura.

 Hidrogel vs Proloterapia

  • Mecanismo: Proloterapia induz inflamação local com dextrose — evidência clínica controversa.
  • Eficácia: Pouca evidência clínica confiável. Já hidrogéis têm estudos robustos, satisfação do paciente e segurança comprovada.
  • Perfil de risco: Proloterapia tem uso incerto, efeitos adversos possíveis. Hidrogéis são minimamente invasivos com perfil seguro.

 Resumo comparativo

Comparativo

Hidrogel

Corticosteroide

Ácido Hialurônico

PRP

Proloterapia

Início do efeito

Moderado (dias/semanas)

Rápido (horas/semanas)

Moderado (semanas)

Leve a moderado (semanas)

Variável

Duração

12–24 meses

Semanas a meses

4–6 meses

6–12 meses

Incerto

Regeneração

Sim possível (bioativos)

Não positivo

Pouco

Sim (fatores de crescimento)

Pouco evidenciada

Repetições necessárias

Uma única

Várias

3–6 injeções/ano

1–3 sessões típicas

Múltiplas, regras não definidas

Risco & tolerabilidade

Alta, raros efeitos locais

Risco de dano cartilaginoso

Bem tolerado, reações locais

Variável (infecção rara)

Inflamação local, risco leve

Conclusão

  • Corticosteroide: ideal para crises agudas. Rápido, mas efeito curto e potencial lesão articular.
  • Ácido hialurônico: opção intermediária, mas exige repetição e oferece alívio limitado.
  • PRP: ótima eficácia em médio prazo com foco biológico, mas varia em custo e padronização.
  • Proloterapia: pouco embasamento.
  • Hidrogel: oferece alívio duradouro, segurança, suporte mecânico e potencial biológico; ideal para artrose moderada e pacientes buscando longo prazo com menor frequência de aplicação.

Considerações finais

 

A infiltração de hidrogel representa uma das abordagens mais modernas e promissoras no tratamento de dores e lesões no joelho, especialmente nos casos de desgaste da cartilagem, lesões meniscais e artrose em estágios leves a moderados.

Diferente de outras infiltrações, como corticosteroides ou ácido hialurônico convencional, o hidrogel oferece um duplo benefício: ação mecânica imediata (lubrificação e amortecimento) e, em muitos casos, estímulo biológico à regeneração tecidual. Sua estrutura estável permite alívio da dor prolongado, com aplicações menos frequentes e excelente tolerabilidade clínica.

Embora técnicas como PRP e ácido hialurônico ainda tenham seu espaço, o hidrogel se destaca quando o objetivo é buscar durabilidade, proteção articular e maior conforto para o paciente ao longo do tempo.

É fundamental, no entanto, que a escolha do tratamento seja personalizada. Cada paciente possui características clínicas, grau de artrose, nível de atividade e expectativas diferentes. Por isso, uma avaliação cuidadosa com um especialista é indispensável para definir a melhor conduta.

O Dr. Otavio Melo, ortopedista especialista em joelho, está à disposição para realizar uma avaliação completa e indicar, quando necessário, o uso de tecnologias como o hidrogel intra-articular — sempre com foco na recuperação funcional e na qualidade de vida do paciente.

Fontes utilizadas:

https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC11634198/
https://biomedical-engineering-online.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12938-025-01342-3
https://www.nature.com/articles/s41467-025-59725-y
https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC3171151/
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33157230/
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S174270612300017X
https://www.frontiersin.org/journals/bioengineering-and-biotechnology/articles/10.3389/fbioe.2024.1340893/full
https://arthrosamid.com/en-CA/post/new-hydrogel-injection-for-knee-osteoarthritis-offers-patients-a-return-to-mobility-without-surgery
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38698396/
https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC11048369/
https://www.bmj.com/content/378/bmj-2022-069722

O Autor

Dr. Otávio Melo é médico ortopedista especialista em joelho na cidade de Belo Horizonte. Com uma abordagem que integra tratamentos inovadores e tecnológicos para a saúde ortopédica, atua na prevenção e tratamento de lesões.

Buscando sempre soluções menos invasivas e focadas na recuperação completa dos pacientes, sua experiência em medicina regenerativa é um diferencial para quem busca resultados duradouros.

Curriculum Resumido

  • Medicina – Faculdade de Ciências Médicas – Belo Horizonte – MG
  • Especialização em Cirurgia do Joelho – Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho
  • Pós Graduação – Dr. Lair Ribeiro
  • Mestrado em Medicina – Santa Casa de Belo Horizonte
  • Doutorado em Saúde Baseada em Evidências (Creditos) – UNIFESP 
  • Medicina Funcional Integrativa – Dr. Victor Sorrentino
  • Clínica da Dor – Hospital das Clínicas da UFMG
  • Medicina Regenerativa – UNICAMP
  • Fellowship em Cirurgia do Joelho – Hôpital de La Croix Rousse – Lyon – França
  • Residência em Ortopedia e Traumatologia – SBOT/MEC – Brasília-DF
  • Técnico em Química – Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais
  • SBOT – Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia
  • SBRATE – Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte
  • SBMEE – Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte e Exercício
  • SBCJ – Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho
  • SMBTOC – Sociedade Médica Brasileira de Tratamento por Ondas de Choque
  • SBPML – Sociedade Brasileira de Perícias Médicas e Medicina Legal
  • ESSKA – European Society of Sports Traumatology, Knee Surgery and Arthroscopy
  • ISAKOS – International Society of Arthroscopy, Knee Surgery and Orthopaedic Sports Medicine
  • ICRS – International Cartilage Repair Society
  • AAOS – American Academy of Orthopaedic Surgeons
  • ABOOM – Associação Brasileira Ortopédica de Osteometabolismo
  • ABPMR – Associação Brasileira de Pesquisa em Medicina Regenerativa
  • SBRET – Sociedade Brasileirta de Regeneração Tecidual
  • SBLMC – Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia
  • ABUM – Associação Brasileira de Ultrassonografia Musculoesquelética
  • CEO do Instituto Regenius
  • Médico Ortopedista 
  • Segundo-Tenente Médico do Exército Brasileiro (R/2)
  • Ex-Professor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)
  • Ex-Professor da Faculdade de Ciências Médias de Minas Gerais (CMMG) – Belo Horizonte / MG
  • Ex-Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB)